Guilherme Borsatto: "Para mim a arte é uma linguagem (ou ferramenta) humanizadora."
Essa semana a DOMI Galeria de Arte Online teve a oportunidade de conversar e conhecer um pouco mais o artista Guilherme Borsatto, paulistano, graduado em Artes Visuais pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo em 2019, e que atualmente vive e trabalha em São Paulo.
Desde muito jovem, Borsatto tem percorrido questões identitárias de gênero dentro de uma família fragmentada, matérias-primas essenciais para sua produção artística que explora a identidade e a memória familiar a partir de suas fragilidades. O artista acredita serem justamente essas questões, as catalisadoras de experiências coletivas.
Seus trabalhos, meticulosamente confeccionados, incorporam elementos coletados de arquivos familiares que se desenvolvem em diversas linguagens como a pintura, a instalação, a cerâmica e o livro de artista e, sobre essas imagens replicadas, são atribuídas uma atmosfera nebulosa. E na subtração da nitidez nessas imagens que surgem os espaços para que o observador projete sobre elas seus próprios conteúdos.
Ainda bastante jovem, Guilherme Borsatto já conta com um currículo significativo, tendo participado de diversas exposições coletivas, como por exemplo, Nosso Olhar É Caminho (2019) no MuBA, Últimos Dias (2020) no FONTE, 16º Salão Nacional de Artes Visuais de Guarulhos (2020), etc. Atualmente integra os grupos da Hermes Artes Visuais e da Casa TATO 3, além de dirigir o Grupo Incubadora de acompanhamento artístico.
Quem é Guilherme Borsatto? Para aquelas pessoas que ainda não te conhecem, como você se descreveria, como pessoa e como artista?
Eu sou um artista contemporâneo e independente de São Paulo, que trabalha em pintura, cerâmica e livro de artista com questões que envolvem memória e afeto. Aos 24 anos, após 7 anos trabalhando como contador em um escritório, decidi mudar completamente e me dedicar exclusivamente às artes visuais como forma de me reconectar com a memória da minha mãe, que faleceu quando eu tinha apenas 6 anos.
Eu acho que me descreveria como uma pessoa muito empática e sensível, com uma intensa energia afetiva e de cuidado. Características que são comumente associadas à figura materna que eu busco incorporar em meus trabalhos.
Sabemos que essa é não é uma definição muito fácil, mas para você o que é Arte?
Para mim a arte é uma linguagem (ou ferramenta) humanizadora. Acredito que as verdadeiras obras de arte recuperam aquilo que é universal e comum ao ser humano, e têm o potencial de nos colocar em um estado contemplativo diante da nossa própria estatura humana.
Fale um pouco sobre suas influências, seus mestres, suas inspirações
Apesar das minhas influências surgirem de todos os lugares, e de haverem diversos mestres que eu admiro e nos quais eu me espelho, acredito que a minha maior referência realmente seja a minha mãe, pois é com base nos arquivos dela que eu produzo todo o meu trabalho. Sua escrita, seus recortes e as suas fotografias são o meu ponto de partida em todas as minhas obras
Como a Arte entrou em sua vida ou como você iniciou no caminho das Artes?
Eu sempre me senti deslocado e diferente das outras pessoas, desde muito muito jovem. A minha família sempre foi bastante religiosa, e por isso foi necessário que eu criasse o meu próprio mundo imaginário como uma forma de acessar meus sentimentos e, ao mesmo tempo, navegar pela descoberta da minha identidade sexual e de gênero. Por isso a arte se tornou a minha forma de me expressar sem necessariamente verbalizar aquilo tudo que era tão proibido. É por isso que, até hoje, a arte me serve como uma ferramenta de autoconhecimento.
Nos conte um pouco mais sobre seu trabalho...
Meu trabalho se desenvolve a partir das fragilidades da memória afetiva. Eu acredito que nossas memórias mudam de forma conforme são revisitadas ao longo das nossas vidas, pois são contaminadas pelo nosso amadurecimento conforme envelhecemos. Essa relação entre memória, afeto, esquecimento e recordação é a base do meu processo criativo e, por ser algo tão inerente ao ser humano, espero alcançar certa identificação com o público.
Quais você diria que foram ou ainda são seus grandes desafios para trabalhar e viver de Arte aqui no Brasil?
Infelizmente, no Brasil, vivemos um momento de sucateamento generalizado, cujo resultado é uma população desvalorizada. O poder aquisitivo do brasileiro é diariamente reduzido e sabotado. Quem consome arte em um país onde praticamente todas as necessidades básicas se tornaram privilégios? E é por conta de todo esse caos político e econômico que a classe dominante desvia o olhar para fora, pois é mais fácil que admitir a realidade do seu próprio país. Então eu diria que o maior desafio é o de chamar a atenção desse público em fuga, sem perder o papel democrático e humanizador da arte.
Olhando desde o início de sua carreira e seguindo sua trajetória profissional até o momento atual, quais você diria que são as características ou atributos fundamentais que um artista precisa ter?
Eu acredito que um artista precisa ser aberto, e procurar enxergar para além das suas próprias limitações socioculturais. Para isso é essencial ser sensível e empático, o que requer humildade e disciplina. É importante conectar-se com o essencial humano que é comum a todos nós
Que conselhos ou dicas você daria para alguém que está apenas começando a dar os primeiros passos nesse mundo das artes?
Procure criar sua própria rede de apoio! Encontre pessoas com interesses semelhantes aos seus, converse, troque, desenvolva seus desejos e, principalmente, apaixone-se pelo seu próprio trabalho. Nessa jornada a humildade é essencial, e o preconceito é proibido.
Nos conte sobre seus planos, sonhos ou projetos para o futuro...
São muitos, eu quero usufruir do privilégio de me dedicar cada vez mais à minha pesquisa sobre afetividade, e leva-la para passear pelo mundo. Quero todos os dias poder conhecer artistas de todos os lugares. Eu sonho com residências em lugares distantes, e com todo o aprendizado que ainda me espera.
Se ficou curioso para conhecer mais o trabalho do artista, visite aqui!
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